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“O Sorriso do Palhaço” – Parte 2

20 mar

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Acordo cedo, é preciso ensaiar, mas antes preciso me maquiar, uma vez me permiti levantar um pouco mais tarde, e acabei indo para o ensaio sem maquiagem, esse dia marcou minha vida, dizem que a alma do palhaço é repleta de alegria, portanto a maquiagem é apenas uma persona, um complemento ao seu grande esplendor, pura mentira, aquele dia me olhando no espelho fazendo as mesmas brincadeiras e palhaçadas de costume que faziam as crianças rirem, as pessoas sorrirem, eram simplesmente tristes…. Um homem adulto, crescido, meio gordo, não era o mais feio mas com certeza não era um colírio, pulando, falando com vozes estranhas, era triste. Foi onde eu comecei a questionar a minha felicidade.

Eu sou bom no que eu faço, eu sei disso, há quem me chame de nojento, há quem diga que me falta humildade, mas não, isso é minha vida, eu tenho que ser bom no que faço se falhar nisso o que me resta? Nada! Sou solteiro, não tenho filhos, tenho poucos amigos, é… Tenho poucos amigos, depois de um tempo você começa a questionar a índole das pessoas, eu acho que isso com começou junto com a minha duvida, junto com a procura pelo meu sorriso.

Meu pai era palhaço, ele sabia como dar um show, sempre antenado usava o que estava acontecendo com o mundo em seu show, todo dia era um show diferente.

Ele queria que eu me tornasse um palhaço melhor que ele, dizia que estava em meu sangue… Bom, aqui estou mas… Mas não consigo lembrar, eu não lembro do meu sorriso, mas é claro eu não consigo nem me lembrar qual meu sonho, por que eu luto? Quais são meus objetivos? Uma pessoa não sobrevive sem objetivos,  hoje sei que estou vivendo o sonho dele, mas qual era o meu sonho? Eu era um jovem esperto, era tão dedicado como sou hoje.

Perai! Começo a me lembrar, as palavras “você jogou sua vida fora”, é verdade houve o dia em que desisti de ser palhaço para seguir meu sonho, meu sonho… Qual era mesmo o meu sonho?

Era jovem e fascinado pelo circo, mas via o circo como fã não conseguia me ver lá dentro, era tudo muito surreal, um mundo sem lógica, sem pé nem cabeça. Pessoas atirando facas de maneira absurdamente precisa, tinha a mulher barbada, um homem que entrava na jaula do tigre branco, pessoas pulando pelos ares e é claro os palhaços, os seres que tinham apenas a função de fazerem as pessoas rirem.

Não cheguei a conhecer a minha mãe, ela por complicações durante o meu parto faleceu, meu pai sempre falava dela, ela era dançarina no circo, ele falava que ela era a pessoa mais carinhosa do mundo, sempre com um sorriso doce em seu rosto, tinha os cabelos cacheados, castanhos, ela era morena com os olhos castanhos claros, olhos bem pequenos, tão pequenos que chegavam a perguntar se ela era japonesa. Minha família por parte de mãe tem descendência indígena, isso explicava seus olhos “pequenos”, ela era bem magrinha, meu pai dizia que quando ventava tinha medo até de ela sair voando por que não tinha peso para sustenta-la.
Ele sempre que falava dele ficava com o olho marejado, cheio de lagrimas, dizia que era uma mulher incrível sempre se sacrificava pensando no próximo, que aquela mulher nasceu sem um pingo de egoísmo, e ele até ficava bravo, pois ela nunca pensava nela, sempre pensando no próximo.

Isso explica algumas coisas sobre mim, eu tenho problemas com prioridades, quero que primeiro todos que estão em meu redor estejam satisfeitos, ai começo a me preocupar comigo, mas de qualquer jeito, não levo as coisas muito a sério é um se preocupar meio largado, fazendo as coisas de qualquer jeito. Fico pensando se ela estivesse aqui, se as coisas teriam sido diferentes…

Mas enfim, por ela não estar conosco eu era obrigado a passar meu tempo livre no circo, aprendi muitas coisas, inclusive que não tenho coordenação nenhuma! Uma vez tentei fazer o numero do malabares e faltei matar meu professor de vergonha, não nasci para aquilo.

Com o tempo fui afirmando na minha cabeça que não era aquilo o que eu queria, eu era mais inteligente do que habilidoso, na verdade, a minha habilidade era minha a inteligência, não conseguiria fazer as coisas “legais” do circo, nunca que conseguiria saltar no trapézio ou fazer aquelas apresentações que 50 pessoas juntas formam uma pirâmide. O que me sobrou? Viver o sonho do meu pai, mas ele amava aquilo, olhando para ele percebia-se que ele era uma pessoa realizada, tinha orgulho dele! Mas nunca houve compreensão, ele era pior que um cavalo com viseira, não enxergava o que acontecia ao seu redor. O mundo não era o mesmo, as coisas estavam diferentes.

Foi ai que eu comecei a busca por uma melhor qualidade de vida, e junto com essa busca as coisas ficaram mais difíceis na casa dos palhaços.

Continua…

 
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Publicado por em 20/03/2011 em Contos

 

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